1) Antes da Boa-Nova ser anunciada, pausa mediúnica para a fala do poeta Waly Salomão. Oxossi, arco e flecha certeira:
- A felicidade do negro é uma felicidade GUERREIRA.
2) A Folha de S. Paulo divulgou na “Ilustrada”, última terça-feira, o lançamento póstumo de 26 canções do cantor e compositor Itamar Assumpção, que devem sair em meados de 2010, integrando a Caixa Preta, projeto supervisionado pela sua filha Anelis Assumpção.
A Caixa Preta conterá todo o legado musical de Itamar, 12 álbuns remasterizados, que foram lançados de forma alternativa por Itamar ao longo da sua carreira, a maior parte deles pela loja/selo Baratos Afins, localizada na Galeria do Rock, onde ainda é possível encontrar as maravilhas do Nego Dito.
No songbook de Itamar ("O livro de canções e histórias de Itamar Assumpção"), o jornalista, amigo e músico Luiz Chagas, que o acompanhou desde o álbum clássico Beleléu, Leléu Eu, descreveu o esboço do projeto a respeito da “Caixa-Preta”:
- No final dos anos 1990, Itamar percebeu que seria inviável relançar os discos como queria, remixados, já que os registros originais haviam se perdido. Para driblar esse percalço, o artista arquitetou uma saída como sempre original. Na falta dos discos originais, regravaria os discos que fez, com os arranjos originais, nota por nota. Clara Bastos foi encarregada de fazer essas transcrições e as Orquídeas seriam a banda de base à qual se juntariam Iscas (de Polícia) e outros poucos convidados, conforme a música. Tinha até escolhido um nome para o projeto: seria Caixa Preta. A fotógrafa Vânia Toledo foi solicitada para fazer a parte visual.
As 26 canções que foram ouvidas pelo repórter da Folha, Marcus Preto, comporiam a trilogia programada por Itamar para fechar o primeiro álbum que fora idealizado, em 1998, Pretobrás – Por que eu não pensei nisso antes?. Seria o segundo ciclo de trilogias do músico na década de 90, sendo o primeiro composto pela banda Orquídeas do Brasil que gravou o Bicho de sete cabeças, I, II, III.
"Todo dia eu saio por aí/tentando descobrir o que ninguém já houvesse descoberto algum dia".
No ínterim de 1998 a 2003, ano da sua morte, Itamar deixou o inacabado Isso vai dar repercussão, gravado em parceria com Naná Vasconcelos. Durante o processo criativo para composição e gravação do álbum, Itamar já convalescia de um câncer no intestino, mas utilizou o tempo escasso que ainda lhe faltava para compor incessantemente.
Naná Vasconcelos relata na matéria da Folha que diariamente Itamar levava idéias de letras e canções para o estúdio (às vezes, recém saído da sessão de quimioterapia), onde os dois trabalhavam nesse álbum de apenas sete músicas, mas extremamente expressivo, um rico manifesto de duas cabeças iluminadas, celebrando a cultura antropofágica:
- “Eu tenho o cabelo duro/ mas não o miolo mole/ (...) sushi com chuchu misturo/quibebe com ravióli/ chopp claro com escuro/ empada com rocambole."
- “Na próxima encarnação/ não quero saber de barra/ replay de formiga não/ eu quero nascer cigarra”.
- “Meu amor por você chegou ao fim/ é tudo que tenho a dizer/ também não precisa sair assim/espere o dia amanhecer.”
- “Culturalmente confuso/ brasileiro é aculturado/ líbio, libanês, árabe, turco, acha/ farinha do mesmo saco/ não saca croata, curdo/não saca iuguslavo/ nem belga nem mameluco/ não saca Plutão nem Plutarco/ (....) Kafka, Freud Confúcio/ não saca que russo é cossaco”.
- OUVIDOS ATENTOS – ano que vem o Nego Dito estará de volta. Em sua melhor forma: acesso irrestrito à sua formidável obra.
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