The life of Hunter S. Thompson: An oral biography - Jann S. Wenner/Corey Seymour
No prefácio do livro "Vida", coletânea de quatro biografias escritas por Paulo Leminski, a sua esposa e também escritora Alice Ruiz explica a escolha dos biografados de Paulo sob o prisma do universo masculino:
- Esses mortos precoces, dois por assassinato - Jesus e Trótski - e dois por precariedade - Cruz e Souz e Bashô - foram seus heróis por excelência. Não sei se seriam os meus. Mesmo porque essa é uma tradição entre os meninos. Em nossa infância as histórias e os gibis não traziam heroínas, só heróis. Que faziam os meninos sonharem com sues próprios grandes feitos quando crescessem. Heróis que eram substituídos ou abandonados quando efetivamente cresciam, determinado o brilho ou a mediocridade dos seus destinos.
Hunter S. Thompson é um dos meus heróis da fase adulta.
Até agora, li todos os livros escritos por ele que tiveram tradução aqui no Brasil (Rum, Hell's Angels, Screwjack, Reino do Medo, Medo e Delírio em Las Vegas, A grande caçada dos tubarões). Essa biografia oral sobre Hunter ainda não possui tradução, mas é fundamental dentro da estante da literatura e do jornalismo Gonzo, estilo tão comentado e alardeado, mas tão pouco lido.
Jann S. Wenner, um dos dois compiladores das entrevistas contidas nessa biografia oral, é o fundador da revista Rolling Stone e também foi o editor dos textos de Hunter por quase 30 anos, textos esses que deram alforria espiritual à revista, diferenciando-a do nicho babaca e estreito ligado ao rock and roll.
Hunter trouxe aos leitores da Rolling Stone um outro olhar devastador sobre o sonho americano, a falência desse sonho Jann, além de tudo, era um fã da escrita de Hunter, além de amigo companheiro de farras.
No livro, as vozes de personagens tão díspares como Pat Buchanan, redator dos discursos do presidente Nixon (seu ódio pelo ex-presidente se fez valer após o escândalo Watergate, e rendeu páginas memoráveis de escárnio e humor negro) até Sonny Barger, líder da gangue de motoqueiros Hell's Angels, passando por Jack Nicholson, Tom Wolfe e Johnny Depp, entre outros, ajudam a compor o enigma febril que foi o Dr. Thompson.
Caipira do Kentuck, obsecado por armas e violência, com um estilo de vida bizarro, regado a álcool e drogas.
O patriota às avessas, que concorreu às eleições para ser sheriff em Aspen, pelo "partido Freak Power".
O jornalista disciplinado que buscava checar e apurar todos os fatos quando não os conhecia com profundidade, em especial na cobertura das eleições presidenciais de 1972, durante um ano, que culminou no livro "Fear and Loathing on the Campaign Trail", considerado por muitos o relato mais fidedigno da campanha.
O camarada de todas as horas que oferecia aos amigos duros a única grana que possúia depositada no banco, segundo sua esposa Sandy.
O trapaceiro junkie que não cumpria acordos: Hunter não pagou um barril de cerveja aos Hell's Angels, que fora acordado como pagamento após a conclusão do livro, que narrou o lado podre e desgradável da geração flower power, uma leitura do "lixo branco" marginalizado dos anos 60, matéria literária do seu herói Willian Faulkner.
Personagem e criatura que se misturaram. Raoul Duke e Hunther Thompson. Mr. Jekkyl e Dr. Hyde. Rodeado de parasitas que viviam às custas da sua celebridade "Gonzo", fama essa que propiciou a sua decadência, assim como Jack Kerouac.
Um dos melhores escritores americanos de todos os tempos. Tom Wolfe, um dos papas do New Journalism, o considera "o maior satirista em língua inglesa do século XX. E ainda fundou o estilo Gonzo, que era o Novo Jornalismo levado às suas últimas consequências: dissolução entre narrador e personagem, uso de drogas durante a matéria e na confecção do texto, humor e muita elegância no estilo, a despeito de tudo isso".
E como disse certa vez o doutor:
- "Escrever é o mais odioso tipo de trabalho pra mim. Acho que é meio como foder: só é divertido pra quem é amador. Putas velhas não ficam dando risadinhas por aí.
R.Saffuan
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