domingo, 27 de setembro de 2009

Uma história Zen


O Zen-Budismo revela a grande influência do Taoísmo em suas histórias. Uma delas fala de Nan-in, um mestre japonês que viveu durante a época Meiji (1868-1912). Certa vez vai visitá-lo um professor universitário que desejava conhecer o Zen. Segundo a etiqueta, Nan-in convida-o a sentar. Começa a servir o chá. A xícara do visitante já está cheia, mas Nan-in continua imperturbável derramando o chá, que principia a escorrer pelo chão. O professor observa o transbordamento, e não podendo mais conter-se exclama: “A xícara já está cheia! Chegou o momento de parar”. Ao que Nan-in observa: “Assim como esta xícara, também estás cheio de conceitos e especulações. Como poderei mostrar-te o Zen, se não te esvaziares primeiro?”.

Do livro "Tao Te Ching" - Editora Pensamento.

Augusto de Campos - Eye


Paulo Leminski e Alice Ruiz


All you need is love.





sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Política Divina - A Frente Parlamentar Evangélica

Planejo postar trechos de capítulos do meu TCC, realizado em parceria com o irmão de todas as horas Rafael Costa, e colocar em circulação algumas pérolas colhidas durante as entrevistas que realizamos em abril de 2006, em Brasília, com a tropa de choque da Frente Parlamentar Evangélica que atuou durante o primeiro mandato do presidente Lula. Alguns trechos serão estrategicamente dispostos de forma aleatória, de modo a compor um mosaico de ideias e intenções. Esse perfil é o do deputado federal Hidekazu Takayama, do Paraná. Enjoy.


Deputado Hidekazu Takayama: o Condutor


Estou aqui para trabalhar e me somar nesta Casa, e espero, nesses quatro anos, dar a minha contribuição — sacrificando-me até por estar distante da minha família — para o crescimento de um país que meus pais queriam quando aqui chegaram, e que eu quero deixar para meus filhos e netos.

Pronunciamento realizado em plenário no dia 28/02/2003


“Por graça e benção de Deus eu nunca pensei em ser político”. Para o deputado Hidekazu Takayama (PMDB/PR) a maior dificuldade em exercer a atividade de parlamentar evangélico pode ser baseada em uma hipotética resposta sobre a seguinte pergunta: qual a dificuldade para o senhor em ser nipo-brasileiro?; nenhuma!. Assim como nascer com os olhos pequenos e puxados, ser político para Takayama foi mera conseqüência, pois nunca pôde determinar nem uma coisa nem outra.

Como provável decorrência de tal imprevisibilidade para ingressar na vida pública, o deputado Takayama é um tanto quanto confuso em relação à ideologia político-partidária; transita com desenvoltura por vários deles.

Seus mandatos eletivos contemplam uma eleição a Deputado Estadual, 1999-2002, pelo PFL; depois, foi eleito deputado federal para os anos 2003-2007, pelo PTB; em 2003, após eleito, foi para o PSB, onde permaneceu por breve período, e novamente para o PMDB, mesmo partido ao qual foi ligado entre 1989 e 1992.



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A entrevista com o deputado Takayama foi concedida logo após o culto que a FPE realiza todas as quartas-feiras de manhãs, na Área das Plenárias. Ao final do culto, fizemos o contato com ele e o acompanhamos até seu gabinete.

É de praxe nos cultos da Frente Parlamentar Evangélica que sua condução litúrgica seja revezada entre dois ou mais deputados. Takayama conduziu o culto naquela manhã do (dia 5 de abril, que conferimos in loco) após a pregação do pastor e deputado Pedro Ribeiro Por quase duas horas permanecemos sob os gritos exaltados de “Aleluia” ou “Glória a Deus” dos participantes.

Takayama escolheu a reserva moral como mote para dissertação e orientação espiritual dos presentes. Falou também sobre a discriminação que sofrem os parlamentares evangélicos, pois vários colegas ateus consideram a religião “um suicídio intelectual”; falou sobre o Apocalipse, a Culminação Final dos Tempos, sob a ótica dos tsunamis, de um furacão no sul do Brasil, das guerras religiosas ou ainda a presença da pedofilia na religião. Classificou a função dos deputados evangélicos como “um duplo sacerdócio – cívico e espiritual”.

Em sua avaliação, o culto é fundamental para a estabilidade da FPE. Somente ali encontram as origens que não podem ser esquecidas dentro do massacrante jogo de poder que tritura os homens engravatados de Brasília. O deputado sintetiza cruamente a opressão de tal poder, que poderia ser uma epígrafe em letras garrafais e luminosas para uma lápide do Congresso Nacional:

- Isso aqui é uma máquina de fazer ateu. O jogo do poder é muito forte. E se você não tiver consciência na vida vai se transformar num Judas da vida,vai vender Jesus por merrequinha.

Em última análise Takayama constata sob o prisma religioso nossa tragédia política e social. A palavra grega tragédia etimologicamente significa canto dos bodes, pois na origem do gênero teatral o coro trágico era composto por indivíduos disfarçados com peles de bodes, sátiros que simbolizavam os instintos primários do homem.

E para os gregos, em cada tragédia havia sempre uma realidade religiosa, um conflito entre a vontade divina e as aspirações humanas. E quem logra a vitória? Apenas os heróis, predestinados pelos deuses, que há muito ultrapassaram a média da humanidade.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Loki?








Há algumas semanas assisti o documentário “Loki”, sobre o genial Arnaldo Baptista, nome esse pescado de um álbum seu de 1974, o primeiro composto após a traumática saída dos Mutantes, o grupo mais revolucionário da história da música brasileira – não é qualquer banda que mistura psicodelia inglesa com música caipira, soul & pontos de umbanda, Orestes Barbosa & Sílvio Caldas misturado a recursos de sonoplastia que simulam sons de metralhadoras e vidro quebrado - tudo isso em plena ditadura militar, sem internet e, sobretudo, quando Rita, Sérgio e Arnaldo eram muito, muito jovens.

Durante a década de 70, Arnaldo amargou anos em uma constante e profunda depressão, ocasionada, sobretudo, por seu rompimento com Rita Lee, com os Mutantes (já em sua fase 100% progressive rock, quando foram morar na Serra da Cantareira) e pelo uso contínuo e desbragado de LSD e outras drogas. O Arnaldo que emergiu desse cenário aparentava um aspecto doentio, desconectado com a “realidade”, mas ainda genial em suas composições.

Não conheço ninguém que tenha o álbum “Loki”, que comprei aos 20 anos na Baratos Afins, selo que gravou Itamar Assumpção e uma leva imensa do punk rock 80’s, e que ainda funciona como loja de música, em atividade na Galeria do Rock, capitaneado pelo heróico Luiz Calanca. Durante esses anos, ouvi o álbum uma infinidade de vezes – gravado ao vivo, com piano (Arnaldo), baixo (Liminha) e bateria (Dinho - os dois últimos ainda integrantes dos Mutantes) a sonoridade do álbum lembra um Jerry Lee Lewis tropicalista & psicodélico, com letras absolutamente dadaístas e com muito humor (acho que não existe dadaísmo sem humor), como a que abre o disco, onde Arnaldo se questiona: Será que eu vou virar bolor????.

Não vou discorrer sobre o documentário, um dos mais emocionantes que já assisti na minha vida; acho que todo mundo que gosta de música brasileira deveria assisti-lo. O que me interessa e incomoda é o desconhecimento absoluto da obra de um cara genial como Arnaldo em função de sua “estranheza”. O ostracismo que viveu na segunda metade da década de 70, assim como o que viveu Tom Zé, Jards Macalé, Sérgio Sampaio, entre outros, é decorrente de um não entendimento artístico de soluções estéticas inovadoras. Artistas que não fazem concessões. Por essa razão o Chico Buarque e o Caetano, por exemplo, sempre estiveram em voga – o primeiro pelo seu “parnasianismo Belle Époque”, em contraponto às suas composições transgressoras; o segundo pelas sempiternas gravações de Peninhas e afins.




Daí a pecha “marginal”. Marginais. Os artistas são as antenas da raça, dizia o poeta e crítico norte americano Ezra Pound. Mas parece que essas antenas por vezes remetem ao Gregor Samsa de “A Metamorfose”, de Franz Kafka. Há um misto de asco e fascinação com artistas que parecem absolutamente novos, e acho que foi o que aconteceu com Arnaldo. Por vezes, é melhor enterrar vivo um gênio para que ele não “desafine o coro dos contentes” (dixit Torquato Neto).

Depois do álbum “Loki”, Arnaldo compôs e tocou todos os instrumentos no álbum “Singing Alone”, de 1979. É um álbum ainda mais assombroso, repleto de pequenas delicadezas, amargura, humor – um dicionário afetivo da vida de sua vida, de suas influências estéticas e musicais. A música que abre o álbum, “I fell in love one day”, só voz e piano, já não lembra o entusiasmo juvenil e iconoclasta de um Jerry Lee, mas sim um Erik Satie melancólico, fin-de-siécle, desfiando amargura na letra composta em inglês: “I fell in love one day/ to a lady so cool/ she had all the magic serpents/ohhhhh/”.

O mais importante de todo esse papo é que Arnaldo está lúcido, após ter sido “ressuscitado” por sua mulher e anjo da guarda, Lucinha. E me parece extremamente feliz. Ele conseguiu um feito: personificou a sua canção mais conhecida, “Balada do Louco”. E segue assoviando melodias inauditas por aí.

Rodrigo Saffuan

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Júlio Barroso





Certa feita, durante o enterro do jornalista e compositor Júlio Barroso, Lobão e Cazuza, que eram amigos, admiradores e parceiros de Júlio, esticaram uma carreira de cocaína sobre o caixão e mandaram ver um tiro em homenagem ao falecido.


A despeito da morbidez do fato, é notável como algumas pessoas suscitam atitudes que contemplem o dionisíaco e o excesso até na hora da sua morte. Já li diversos relatos sobre a morte de artistas, músicos e poetas nos quais são descritos embriaguez e júbilo entre os amigos que continuariam por aqui, durante o rito de passagem.


O artista morreu de forma trágica, em 1984, após cair do quarto de um hotel em circunstâncias desconhecidas, assim como o trompetista Chet Baker em Amsterdam. É provável que tenha sido acidental, como relata Nelson Motta no livro “Noites Tropicais”, que cogita a possibilidade de Julio estar “bebendo, trepando, cantando, ou tudo isso ao mesmo tempo”, (ou algo parecido com isso, já que não estou com o livro à mão).


Júlio Barroso é considerado um dos precursores do movimento “new wave” no Brasil, após ter fundado a Gang 90 & as Absurdetes, que levantou o Maracanãzinho no festival MPB-Shell, em 1981, com a música “Perdidos na Selva”, de co-autoria de Guilherme Arantes. A performance de Júlio foi impagável. Diante de uma plateia entusiasmada, ele fazia da apresentação uma performance, já que seus dotes vocais eram limitados. No entanto, ele compensava com atitude punk: um caro alto, esguio, com óculos grossos, cuspindo a letra com vontade. Levantou a multidão.


Antes de tornar-se conhecido como band leader, Júlio foi um jornalista muito influente, pois trazia informações de primeira ordem nos tempos de abertura política sobre música e comportamento, com um texto vibrante, seco, direto, muito influenciado pelos autores beats, que começavam a circular à época traduzidos, aqui no Brasil. Há um tempo, o jornalista do Estado, Jotabê Medeiros, publicou um texto inédito que Júlio escreveu sobre Chuck Berry publicado na revista “Somtrês”, em 1981.


Durante o começo da década de 80, compôs diversas músicas com Lobão, que recentemente gravou duas inéditas do amigo (e ídolo) no álbum “Canções dentro da noite escura”. Por hora, vou deixar a letra de uma homenagem lancinante (não estou conseguindo postar o vídeo aqui)

ao escritor Jack Kerouac:



Jack Kerouac


Alice Pink Pank/Julio Barroso

Ontem a noite eu sonhei
que eu era Jack Kerouac
E subi num terraço: rua Houston
E vi as duas torres gêmeas brilhando.

O cabelo louro da menina
As tranças negras do crioulo
A sua guitarrra - a sua angústia calma.

Eu desci
Peguei a minha lata de spray
Sai pela rua, pintei dois olhos verdes nas paredes.

Ontem a noite eu sonhei
que conversava com Jack Kerouac
Ele chegava e me dizia
“Hey Man! eu renasci black
E agora sou um tocador de piston!”
Eu só sei que o som era tão alto que despertou o mundo inteiro
Eu acordei, e saí mandando brasa nas estradas do mundo.

Ei Jack! Bye Bye

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Primavera - 2009




a platéia laboriosamente fabrica
uma colméia sem mel

a platéia lentamente derrete
sob o céu cor metano-sangue

a platéia persiste no inferno do metrô
uma colônia de fungos retrô?

as paredes todas grafitadas
& as abelhas sem nenhuma flor

È primavera em São Paulo

R.Saffuan

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Reino de Baco





o tapete manchado de vinho
é poesia no tempo passado
um recado pra Baco
sangue pisado
na boca de Cristo

futuro ainda não visto
nossos corpos
revisitados
copos vazios e borrados
nas bordas restam delírios

o tapete estava manchado de vinho
e a atriz nem ligava
no ato evocava Baco
e a noite negra ecoava

uma gota em nossos lábios
do resto do vinho seco
que no centro do coração amarga
mas alivia o peito

Razão de ser - Imago





Esse vocábulo há muito me acompanha. Não me lembro quando descobri o seu significado, mas acho que ele se adequa perfeitamente ao meu momento. Talvez um dia seja o título do meu primeiro livro. Eis o significado:

i.ma.go

sf (lat imago) Entom Inseto em seu estádio final, adulto, sexualmente maduro, comumente alado. sm Psicol Modelo, justificado ou não, de uma pessoa amada, formado na infância e que se conserva sem modificação na vida adulta.