segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Exposição: “Paulo Leminski: 20 anos em outras esferas”.

(Poema em guardanapo arquivado por Ademir Assunção)

“Melhor morrer de vodka do que de tédio”.


Os versos do grande poeta russo Maiakovski definem com precisão a vida fulgurante do poeta paranaense Paulo Leminski, que faleceu em 1989, ano mais que emblemático para aquele apaixonado pela Revolução Russa, biógrafo de Leon Trotski, que caiu no mesmo ano do Muro de Berlim e das utopias que separavam o mundo em dois blocos hegemônicos.


Paulo Leminski deixou há 20 anos essa vida para “viver o delírio de outras esferas”, como o próprio definiu em um bilhete para a família, em tom amargo despedida, e de onde o curador da exposição e amigo de Paulo, o escritor e jornalista Ademir Assunção (Pinduca) retirou o excerto que dá nome à exposição do Itaú Cultural.


Mas como adverte o texto de apresentação de Ademir sobre a expo, “Paulo Leminski continua mais vivo do que muitos vivos”, dado o interesse das novas gerações pela sua instigante obra, que necessita de reedição urgente e imediata.


A interatividade é o grande lance dessa exposição, já que Leminski sempre foi um poeta multimídia, transitando por todas as formas de expressão artística, quando o computador pessoal ainda era um delírio e a internet, a materialização da “aldeia global”, de Marshall McLuhan, um sonho de ficção científica.


É possível ver e ouvir a versatilidade de Leminski por meio de um documentário onde o poeta sai às ruas de madrugada para grafitar paredes com frases de efeito (“Quem tem Q.I, vai”, é uma delas); no programa da rede Bandeirantes, TV de Vanguarda, onde atuava em quadros sobre literatura e discorria sobre Kafka, Mishima, Drummond (vídeos espalhados pela exposição); ou ainda no som ambiente que toca ininterruptamente 21 músicas de autoria de Leminski, gravadas por Arnaldo Antunes, Moraes Moreira, Blindagem, entre outros.


Outra solução interessante para contemplar toda a vasta obra de Leminski ao público foi a disposição de três computadores nos quais você pode acessar ícones diversos que te encaminham a um poema, uma canção, uma frase, uma leitura da poeta e parceira de vida Alice Ruiz, de uma frase ou poema. Interessante ver como as crianças, já adaptadas plenamente à era da informática, se divertem manuseando o mouse sobre a obra do Bandido que sabia Latim.


Ademir Assunção vasculhou os arquivos do poeta que estão sob a tutela da sua filha Áurea Leminski, em Curitiba, onde estão guardados cadernos com inéditos, originais grafados em guardanapos (que parecem palimpsestos egípcios), manuscritos do livro “Catatau” e outras raridades. Alguns desses versos inéditos estão na exposição, espalhados em todos os cantos, para o deleite dos admiradores da sua obra:

Nenhuma linha reta
na árvore de galhos
para servir de seta

nenhuma linha curva
nas varas retas
para servir de arco

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(...)
Só quando
Estamos em nós
Estamos em paz
Mesmo que estejamos a sós (Contra-narciso)

Ou ainda saborear as pérolas de linguagem que às vezes ficam esquecidas na memória:

“Que Deus escondeu na uva o vento louco da embriaguez?”.

“A nós, gente, só foi dada/ essa maldita capacidade/transformar amor em nada”.

“Quem vai embora não embolora”.

“A lucidez é feita de muitas coisas obscuras”.

“A poesia é o que chamo de INUTENSÍLIO. Ela não tem mistério, mas é todo mistério. É como querer justificar o orgasmo, ou um gol do Zico, que só tem sentido pela plena alegria que aquilo proporciona”.

“Dionísio Ares Afrodite/ aos deuses mais cruéis/juventude eterna!/eles nos dão para beber/ na mesma taça/ o vinho o sangue e o esperma.”

“Eu busco a velocidade das trevas”.

Observação: A direção do Itaú Cultural ainda não entendeu que estamos na era da livre, plena, e irrestrita divulgação de documentos audiovisuais, e não permite que os visitantes fotografem a exposição, sem antes entrar em contato com a assessoria de imprensa, etc. Falei com o Ademir assunção via internet, e ele disse que, por ele, tava tudo liberado. Enfim, eu não sabia, cheguei lá e fiquei sem o registro. Aqui no blog do Ademir vocês podem conferir fotos e as estórias por trás da exposição.

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