quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sempre um papo 27.04 – Claúdio Willer e convidados falam sobre a poesia de Roberto Piva

"Sou uma metralhadora em estado de graça"


Ontem novos estranhos sinais de saturnos foram enviados em favor do poeta Roberto Piva, que desde o início do ano convalesce por conta de alguns problemas de saúdes graves, e também pelo fato de não ter um “plano de saúde”, esse salvo conduto do Inferno dos hospitais brasileiros.

Após o sarau literário (ou porre espiritual, como afirmou o jornalista Jotabê Medeiros, ou o mais empolgante sarau que já participei) na galeria B_arco, no mês de março, os amigos e admiradores de Piva continuam angariando fundos para ajudar o poeta. Cláudio Willer, poeta, tradutor e exegeta da obra de Piva, participou do evento “Sempre um papo”, no SESC Vila Mariana. Seu cachê foi doado para o tratamento hospitalar do poeta da Santa Cecília.

O evento teve a participação de amigos e admiradores da obra de Piva, que contaram breves relatos sobre a obra do poeta ou ainda a relação pessoal que existe entre eles (amizades de até 40 anos), como o cineasta Ugo Giorgetti, que definiu de forma lapidar o livro “Paranóia”, de 1963:

- A São Paulo que o Piva retrata nesse livro não é a cidade que existia em 1963, mas sim uma cidade que só apareceria 30, 40 anos depois. Ele via algo que nós não víamos, e esse é o sentido da experiência do poeta, do vate”.

Toninho Mendes discorreu sobre a publicação de Piva e Willer na revista “Chiclete com Banana”, fundada em parceria com Angeli, e que divulgou a geração Beat e os dois poetas no Brasil, no início da abertura política, e do impacto que causaram à época. Já o poeta Roberto Bicceli, bastante emocionado, definiu a importância de Piva no cenário poético das próximas gerações:

- Daqui a 300 anos vão falar do Piva como hoje falamos do Gregório de Matos, o Boca do Inferno.

Claúdio Willer, por sua vez, leu um texto preparado por ele para a ocasião (o primeiro volume de obras reunidas de Piva, Um estrangeiro na legião, conta com um texto brilhante a respeito de cada um dos livros do poeta) no qual aborda o cruzamento da obra de poetas como Jorge de Lima, Allen Ginsberg, Gregory Corso e García Lorca em inúmeras passagens da poesia de Piva.

Um fato interessante abordado por Willer foi o fato de no final de década de 50 Piva ter importado pilhas de livros da City Lights, do poeta Lawrence Ferlingheti, com a publicação dos autores da geração beat, quando eles ainda eram vistos como jovens excêntricos, viciados em drogas e blá. Willer se tornaria o tradutor de Ginsberg, Piva trocaria correspondências com Michael McClure, e receberia o livro Jaguar Skies com a seguinte dedicatória a ele: “We are instruments that plays ourselves”. O resto já é história. Viva Piva!



segunda-feira, 19 de abril de 2010

Rimbaud, a eterna surpresa


Rimbaud e sua foto de melhor qualidade no auto-exílio africano


Extraído do blog "Estúdio Realidade", do poeta e tradutor Rodrigo Garcia Lopes.

Observação: a tradução do livro "Iluminuras", feita por Rodrigo e Maurício Arruda Mendonça, me acompanha há uns 8 anos.


"Dois livreiros parisienses descobriram uma foto de Arthur Rimbaud em idade adulta, imagem esta que dá um novo rosto ao poeta francês, que parou de escrever aos 20 anos para viver aventuras em terras distantes. A foto, que data do início dos anos 1880, é a única com boa qualidade de Rimbaud adulto. Ela mostra o autor de "Bateau ivre" (O Barco Ébrio) e "Illuminations" (Iluminuras) sentado em meio a um grupo de sete pessoas no terraço do Hotel Universo de Áden, no Iêmen. Faz parte de uma coleção com trinta outras, feitas também em Áden, e que foram descobertas durante uma feira, há dois anos, pelos livreiros, Jacques Desse e Alban Caussé. Para autenticar a fotografia, apresentada nesta quinta-feira, dia 15, no Salão de Livros Antigos em Paris, foi convocado o especialista em Rimbaud e autor do livro "Sur Arthur Rimbaud, Correspondance Posthume 1891-1900" (Sobre Arthur Rimbaud, Correspondência Póstuma 1891 - 1900, em tradução livre), Jean-Jacques Lefrère. O processo de autentificação incluiu inúmeras pesquisas sobre a paisagem da foto e a vida de Rimbaud no Iêmen e na Etiópia, onde ele chegou em 1880 e trabalhou como comerciante de marfim, café, peles e ouro".

Folha de S. Paulo

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Alice no país dos Avatares



“(...) Não esquecer que a estrutura do átomo não é vista, mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi”.

A sentença acima foi escrita por Clarice Lispector no livro “A hora da estrela”. Acabei de lê-la no trecho final da magnífica biografia escrita por Benjamin Moser, “Clarice,”.

Recorro a ela para justificar alguns pontos de vista sobre determinados aspectos da cultura da nossa época.

Acabo de ver o trailler do filme “Alice no país das Maravilhas”, do incensado diretor Tim Burton. Para mim, o trailler basta, assim como as primeiras páginas de um livro. Não gostei do que vi.

A delicada fantasia do livro foi travestida por um universo gótico, delirantemente carregado. Claro que o hype da temporada será assistir o filme com óculos 3D (o Ruy Castro outro dia escreveu que em 1955 a tecnologia já era tão obsoleta quanto o bilboquê), com ou sem aditivos químicos, e propagar e tecer loas via Twitter e Facebook sobre a atuação chapada do Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco.

Você compra o pacote fechado. Um combo, pipoca, chocolate e refrigerante: Alice + 3D + Johnny Depp o-senhor-doidão-de-Hollywood+ Tim Burton. Sucesso de bilheteria antes da estreia. Sei de algumas coisas que não vi por inteiro.

Parece que vou assistir “Crônicas de Nárnia” ou o “Senhor dos Anéis”. Uma sensação de "Dejá Vú de Cinemark", conhece essa sensação?

Os filmes não têm especificidade, não tem fantasia, não tem uma visão original (não precisa ser fidedigna) sobre a obra. Há preguiça mental por parte dos espectadores, pois pensam que a fantasia & o universo onírico só podem ser supridos por toneladas de efeitos especiais, maquiagens futuristas, etc. Perde-se o encanto, a SUTILEZA.

Mas o kitsch predomina. Walt Disney, vocês esperavam o quê?

Por exemplo: o diretor Ridley Scott, em “Blade Runner”, utiliza a ficção científica e os efeitos especiais com maestria, pois tinha algo a dizer sobre a distopia do livro que inspirou o filme. Isso é arte. Mas, se querem entretenimento besuntado de manteiga, tecnologia, e dólares, ok. Alice comporta todos esses quesitos.

E , só pra constar, a música da trilha sonora que está sendo "trabalhada" comercialmente é da musa adolescente Avril Lavigne. Legal né? E uma versão de "Whitte Rabitt", do Jefferson Airplane, por "Grace Potter and the Nocturnals", manja? Ah, e tem a banda mais poser da história, o "Tokyo Hotel", um híbrido horrendo de hair metal, emo e animé japonês. E o clássico gótico Robert Smith. Bom, Tim Burton tem mesmo um pé na cova, e quis fazer um filme que dissesse mais sobre seus gostos do que sobre a obra de Lewis Carrol.

Resumindo: talvez por isso “Avatar” tenha feito aquele sucesso de bilheteria, mas fracassou no Oscar. O geek James Cameron sabe o que a plateia deseja. Quando vi o trailler daqueles horrendos monstros kitsch, azuis e com cara de cavalo, falei pra mim mesmo: Não, obrigado. Cansei.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Uníssono


"A pureza é um mito"

Hélio Oiticica.

Subjuntivo e desconjuntado:

,como se a paisagem sumisse
,como se alguém me dissecasse
,como se alguém não me amasse
,como se alguém me ferisse
,como se alguém me despisse
,como se alguém me despistasse
,como se alguém se esquecesse

Como se eu só acenasse,
& meu ouvido zunisse,
& meu vinho derramasse
& eternamente eu me despedisse...

R.Saffuan