i.ma.go
sf (lat imago) Entom Inseto em seu estádio final, adulto, sexualmente maduro, comumente alado. sm Psicol Modelo, justificado ou não, de uma pessoa amada, formado na infância e que se conserva sem modificação na vida adulta.
Segue abaixo um excerto impressionante de uma reportagem que explica muito sobre a nossa época.
Quando a hipocrisia cai, um mundo de horrores se descortina à nossa frente. Exterminem todos os brutos!
“No fim de outubro, quando o economista Kevin O'Rourke postou em seu blog um pequeno artigo intitulado “O que os mercados querem?”, dezenas de leitores tentaram responder.
Resumo de uma das respostas, sob pseudônimo: “Os mercados querem dinheiro para cocaína e putas. Sério. A maioria das pessoas não percebe que “os mercados” são na realidade recém-formados em administração de 22 a 27 anos, que inventam furiosamente estratégias de compra e venda em planilhas Excel, se reportam a chefes cinco anos mais velhos e, geralmente, têm a mentalidade e inteligência de ginasianos. Um plano orçamentário de quatro anos não vai deixá-los satisfeitos. Daqui a quatro anos estarão fora do negócio ou promovidos a uma posição na qual a Irlanda não lhes importará mais. Em vez de um orçamento apropriado, o que o país pode fazer é subornar as agências de classificação de risco. Pão e circo para as massas, cocaína e prostitutas para o mercado. Por que não explorar o fato de que o sistema é caótico e aético para fazer algum bem ao país em vez de levá-lo à falência num esforço para comprar BMWs novos para os solteiros de 25 anos?”
Da reportagem “A praga dos bancos”, da revista Carta Capital (24/11), sobre a crise da União Europeia e dos países periféricos do velho continente – Irlanda, Espanha e Portugal.
O amor e a paixão, mesmo quando sentidos sob todas as fibras do nosso corpo, são inventados em nossa imaginação; lá germinam, crescem e morrem, sem nunca ninguém saber quando e como existiu.
O amor é imaginado, antes de sentido e/ou concretizado.
Ele está chegando, mas sempre parte logo. Os lábios pegando fogo, enquanto você está de cabelos molhados. Alguém que tomou um elixir mas ainda permanece sonhando acordado e amando sonâmbulo.
Algo que fica no ar. O grito do ginasta, o medalhista sanguíneo. A mulher arrebatada por sabe-se lá quem, e por quais motivos?
Há sempre um soluço contido Há sempre a multiplicação das lágrimas num amplo manancial, há sempre os braços abertos para acolher Alguém. Mas que logo estará de partida, sabe-se lá pra onde.
Talvez seja eterno. Talvez azede rapidamente como uma garrafa de vinho aberta na geladeira.
Talvez nunca volte, talvez nunca telefone. Talvez esteja tatuado no ventre pro resto da sua vida.
Talvez ele te observe numa vigília eterna, e quando você abrir os olhos, ele se foi, como a alma liberta de um pássaro, riscando o céu do crepúsculo cor de vinho.
E ele não saberá mais de que matéria é feita o sofrimento da existência, o júbilo do amor, e a limpidez de uma lágrima ardente, daquele que um dia lambeu-a com gosto, como se seu corpo tenro e seus lábios macios fossem a consistência e a matéria física do Amor.
O fim, nem mais nem menos – as fichas da mesa de bilhar acabaram e a grana acabou; você olha de soslaio, esparrama as bolas coloridas com as mãos & a estação de rádio toca uma música que não corresponde ao momento.
Você vasculha o bolso da calça procurando moedas e só sente o forro da alma perdida no espaço-tempo, você precisa ir embora, pois o dia quando nasce para os loucos distribui certezas imprestáveis ou roteiros inacabados sobre a vida no Paraíso.
O último capítulo da novela não me revelará nenhum segredo, querida. Desculpe.
O fim de um relacionamento; o último pingo caindo de uma garrafa de vodka nacional, aí sim, o fim de tudo mais melancólico do mundo.
Quando desistimos de algo e permanecemos soterrados por camadas de cinzas e lava em posição fetal como um habitante de Pompéia que sonhava com o amanhã dourado.
O fim somos nós, pois a vida segue, dentro ou fora da galáxia. O desespero somos nós: o medo, a fuga, a doença.
Ontem novos estranhos sinais de saturnosforam enviados em favor do poeta Roberto Piva, que desde o início do ano convalesce por conta de alguns problemas de saúdes graves, e também pelo fato de não ter um “plano de saúde”, esse salvo conduto do Inferno dos hospitais brasileiros.
Após o sarau literário (ou porre espiritual, como afirmou o jornalista Jotabê Medeiros, ou o mais empolgante sarau que já participei) na galeria B_arco, no mês de março, os amigos e admiradores de Piva continuam angariando fundos para ajudar o poeta. Cláudio Willer, poeta, tradutor e exegeta da obra de Piva, participou do evento “Sempre um papo”, no SESC Vila Mariana. Seu cachê foi doado para o tratamento hospitalar do poeta da Santa Cecília.
O evento teve a participação de amigos e admiradores da obra de Piva, que contaram breves relatos sobre a obra do poeta ou ainda a relação pessoal que existe entre eles (amizades de até 40 anos), como o cineasta Ugo Giorgetti, que definiu de forma lapidar o livro “Paranóia”, de 1963:
- A São Paulo que o Piva retrata nesse livro não é a cidade que existia em 1963, mas sim uma cidade que só apareceria 30, 40 anos depois. Ele via algo que nós não víamos, e esse é o sentido da experiência do poeta, do vate”.
Toninho Mendes discorreu sobre a publicação de Piva e Willer na revista “Chiclete com Banana”, fundada em parceria com Angeli, e que divulgou a geração Beat e os dois poetas no Brasil, no início da abertura política, e do impacto que causaram à época. Já o poeta Roberto Bicceli, bastante emocionado, definiu a importância de Piva no cenário poético das próximas gerações:
- Daqui a 300 anos vão falar do Piva como hoje falamos do Gregório de Matos, o Boca do Inferno.
Claúdio Willer, por sua vez, leu um texto preparado por ele para a ocasião (o primeiro volume de obras reunidas de Piva, Um estrangeiro na legião, conta com um texto brilhante a respeito de cada um dos livros do poeta) no qual aborda o cruzamento da obra de poetas como Jorge de Lima, Allen Ginsberg, Gregory Corso e García Lorca em inúmeras passagens da poesia de Piva.
Um fato interessante abordado por Willer foi o fato de no final de década de 50 Piva ter importado pilhas de livros da City Lights, do poeta Lawrence Ferlingheti, com a publicação dos autores da geração beat, quando eles ainda eram vistos como jovens excêntricos, viciados em drogas e blá. Willer se tornaria o tradutor de Ginsberg, Piva trocaria correspondências com Michael McClure, e receberia o livro Jaguar Skies com a seguinte dedicatória a ele: “We are instruments that plays ourselves”. O resto já é história. Viva Piva!
Rimbaud e sua foto de melhor qualidade no auto-exílio africano
Extraído do blog "Estúdio Realidade", do poeta e tradutor Rodrigo Garcia Lopes.
Observação: a tradução do livro "Iluminuras", feita por Rodrigo e Maurício Arruda Mendonça, me acompanha há uns 8 anos.
"Dois livreiros parisienses descobriram uma foto de Arthur Rimbaud em idade adulta, imagem esta que dá um novo rosto ao poeta francês, que parou de escrever aos 20 anos para viver aventuras em terras distantes. A foto, que data do início dos anos 1880, é a única com boa qualidade de Rimbaud adulto. Ela mostra o autor de "Bateau ivre" (O Barco Ébrio) e "Illuminations" (Iluminuras) sentado em meio a um grupo de sete pessoas no terraço do Hotel Universo de Áden, no Iêmen. Faz parte de uma coleção com trinta outras, feitas também em Áden, e que foram descobertas durante uma feira, há dois anos, pelos livreiros, Jacques Desse e Alban Caussé. Para autenticar a fotografia, apresentada nesta quinta-feira, dia 15, no Salão de Livros Antigos em Paris, foi convocado o especialista em Rimbaud e autor do livro "Sur Arthur Rimbaud, Correspondance Posthume 1891-1900" (Sobre Arthur Rimbaud, Correspondência Póstuma 1891 - 1900, em tradução livre), Jean-Jacques Lefrère. O processo de autentificação incluiu inúmeras pesquisas sobre a paisagem da foto e a vida de Rimbaud no Iêmen e na Etiópia, onde ele chegou em 1880 e trabalhou como comerciante de marfim, café, peles e ouro".
“(...) Não esquecer que a estrutura do átomo não é vista, mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi”.
A sentença acima foi escrita por Clarice Lispector no livro “A hora da estrela”. Acabei de lê-la no trecho final da magnífica biografia escrita por Benjamin Moser, “Clarice,”.
Recorro a ela para justificar alguns pontos de vista sobre determinados aspectos da cultura da nossa época.
Acabo de ver o trailler do filme “Alice no país das Maravilhas”, do incensado diretor Tim Burton. Para mim, o trailler basta, assim como as primeiras páginas de um livro. Não gostei do que vi.
A delicada fantasia do livro foi travestida por um universo gótico, delirantemente carregado. Claro que o hype da temporada será assistir o filme com óculos 3D (o Ruy Castro outro dia escreveu que em 1955 a tecnologia já era tão obsoleta quanto o bilboquê), com ou sem aditivos químicos, e propagar e tecer loas via Twitter e Facebook sobre a atuação chapada do Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco.
Você compra o pacote fechado. Um combo, pipoca, chocolate e refrigerante: Alice + 3D + Johnny Depp o-senhor-doidão-de-Hollywood+ Tim Burton. Sucesso de bilheteria antes da estreia. Sei de algumas coisas que não vi por inteiro.
Parece que vou assistir “Crônicas de Nárnia” ou o “Senhor dos Anéis”. Uma sensação de "Dejá Vú de Cinemark", conhece essa sensação?
Os filmes não têm especificidade, não tem fantasia, não tem uma visão original (não precisa ser fidedigna) sobre a obra. Há preguiça mental por parte dos espectadores, pois pensam que a fantasia & o universo onírico só podem ser supridos por toneladas de efeitos especiais, maquiagens futuristas, etc. Perde-se o encanto, a SUTILEZA.
Mas o kitsch predomina. Walt Disney, vocês esperavam o quê?
Por exemplo: o diretor Ridley Scott, em “Blade Runner”, utiliza a ficção científica e os efeitos especiais com maestria, pois tinha algo a dizer sobre a distopia do livro que inspirou o filme. Isso é arte. Mas, se querem entretenimento besuntado de manteiga, tecnologia, e dólares, ok. Alice comporta todos esses quesitos.
E , só pra constar, a música da trilha sonora que está sendo "trabalhada" comercialmente é da musa adolescente Avril Lavigne. Legal né? E uma versão de "Whitte Rabitt", do Jefferson Airplane, por "Grace Potter and the Nocturnals", manja? Ah, e tem a banda mais poser da história, o "Tokyo Hotel", um híbrido horrendo de hair metal, emo e animé japonês. E o clássico gótico Robert Smith. Bom, Tim Burton tem mesmo um pé na cova, e quis fazer um filme que dissesse mais sobre seus gostos do que sobre a obra de Lewis Carrol.
Resumindo: talvez por isso “Avatar” tenha feito aquele sucesso de bilheteria, mas fracassou no Oscar. O geek James Cameron sabe o que a plateia deseja. Quando vi o trailler daqueles horrendos monstros kitsch, azuis e com cara de cavalo, falei pra mim mesmo: Não, obrigado. Cansei.
,como se a paisagem sumisse ,como se alguém me dissecasse ,como se alguém não me amasse ,como se alguém me ferisse ,como se alguém me despisse ,como se alguém me despistasse ,como se alguém se esquecesse
Como se eu só acenasse, & meu ouvido zunisse, & meu vinho derramasse & eternamente eu me despedisse...
“Já comi muito da farinha do desprezo. Como é forte o gosto da farinha do desprezo. Só vou comer agora da farinha do desejo.”
Acompanhando a “retomada” do cinema nacional na última década, alguns documentários importantes regsataram a memória musical de idiversos artistas brasileiros: Titãs, Simonal, Arnaldo Baptista e Paulo Vanzolini foram alguns dos agraciados. Principalmente no caso do resgate artístico de Simonal, devido à sua controversa história de ostracismo, que envolveu gorilas do DOPS e o espancamento do seu contador.
No entanto, parece que essa febre de documentários musicais está prejudicando o rigor no tratamento do enredo e uma abordagem mais complexa da obra do artista, como é o caso de “Jards Macalé: um morcego na porta principal”, de Marco Abujamra e João Pimentel.
Na primeira cena do filme, Jards está literalmente puto e desconfiado com os critérios utilizados na escolha dos entrevistados, e ameaça, inclusive, processar os autores caso não gostasse do resultado final.
(Obs: E, novamente, entrevistaram o Nelson Motta, com seu indefectível óculos escuros. Sabemos da importância de Nelsinho na história da música popular brasileira. Mas não para TODOS os artistas, e nem para agregar histórias a todos os documentários. Parece escolha de universitário que vai realizar TCC, que sempre vê as mesmas referências.)
“Mas você tem medo de quê?”, pergunta uma voz em off, para Jards. “De que vocês desconstruam tudo que fiz durante a minha vida. A minha própria vida”. Não chega a tanto, até pelo fato do filme ter sido liberado por ele. Mas há hiatos que comprometem a sua apresentação ao grande público (acho que os documentários servem pra isso), já que se trata de um artista de trajetória conturbada.
A discografia do músico é praticamente ignorada. Não há uma cronologia dos seus álbuns, nem mesmo as histórias sobre as circunstâncias em que foram forjados. As músicas são tocadas sem nenhuma referência ou contextualização, somente nos créditos finais.
Algumas imagens de shows recentes de Jards dão uma impressão da intensidade do violão neurótico e da carga dramática de suas interpretações. Mas nem mesmo as imagens de arquivo da clássica interpretação de “Gotham City” (parceria com Capinam), no IV Festival Internacional da canção foram resgatadas. Por outro lado, as imagens de super 8 arquivadas pelo autor são uma constante em determinado momento, para preencher esse vácuo.
O documentário foca as excentricidades de Jards e as origens do estigma que levaram à sua pecha de maldito e músico irascível. Jards e seus amigos (Zé Celso - o mais contundente de todos - Capinam, Luiz Melodia, Jorge Mautner, Abel Silva, Hermínio Bello de Carvalho) deixam claro que insubmissão à indústria fonográfica e autenticidade não coadunam com maldição ou marginalidade, mas sim compromisso de vida inteira com uma ética pessoal e intransferível (relembrando Torquato Neto, seu grande amigo e parceiro).
“Maldito é a mãe. Eu lutava por um mínimo de liberdade diante daquela ditadura maluca. Malditos mesmo eram Baudelaire e Rimbaud, essa galera da pesada, que até hoje esse pessoal não conhece. Vá ao dicionário e procure o significado da palavra maldito”, afirma com veemência Jards. Logo depois, o artista é filmado com uma camiseta do Superman, fumando um baseado, o que acaba por reforçar essa mesma imagem.
Positivamente, o filme tem histórias impagáveis de Jards ao lado de Moreira da Silva, contadas em entrevista feita por Jaguar; a história do memorável disco “O banquete dos mendigos”, em 1973, que celebrou os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em plena ditadura militar (que censurou o próprio texto da Declaração, lido pelo poeta Ivan Junqueira), e imagens do parceiro Waly Salomão.
Mas a imagem inicial do filme, onírica, com Jards e sua mãe em uma cadeira de balanço, vale por uma vida inteira.